sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Com fogo não se brinca


Importantes espaços culturais da cidade não têm extintores de incêndio

Ver o patrimônio construído ao longo da vida ser consumido pelo fogo é, sem exagero, arder em sofrimento. Se em uma casa particular a dor de ver tudo se transformar em fumaça é comovente, em um local que guarda registros históricos é ainda pior. Não que a angústia de uma família que perdeu seus bens, e por vezes, entes queridos, seja menor. Porém, quando um espaço que preserva a memória de uma comunidade é destruído pelas labaredas, a perda é maior que as posses materiais. São páginas da história que acabam queimadas.

Em Rosário do Sul, o Arquivo Público Municipal foi devastado por um incêndio em 25 de janeiro. Nele, estavam cerca de 60 mil documentos da prefeitura. Apesar de boa parte do acervo não ser de registros históricos, o fato fez soar a sirene de alerta sobre a necessidade de se ter o material para prevenção de incêndios em prédios semelhantes de Santa Maria.

A constatação não foi boa: o Arquivo Histórico Municipal, o Museu de Arte de Santa Maria (Masm) e a Secretaria de Cultura não têm extintor de incêndio. Já o prédio de dois andares e cerca de 854 metros quadrados da Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide tem só dois.

Conforme o capitão Márcio Farias, chefe da Seção de Prevenção Contra Incêndios do Corpo de Bombeiros, quando se trata de espaços mantidos pelos poderes públicos, são os gestores que devem solicitar a vistoria para ver se o lugar oferece condições de segurança. Segundo ele, a corporação emite um ofício avisando os responsáveis que é necessário pedir a visita técnica. O último comunicado dos bombeiros para a prefeitura foi em 2009. Farias complementa que há três equipes fazendo fiscalização, mas, por se tratar de prédios públicos, presume-se que estejam em dia.

– A prefeitura teria de dar exemplo, já que cobra dos cidadãos. Os prédios deveriam ter itens mínimos, como extintores e sinalização de saída. Está dentro da responsabilidade do gestor público pedir nossa visita – afirma o capitão.

Farias diz que é preciso avaliar a situação de cada lugar. Entretanto, em espaços superiores a 30 metros quadrados, é preciso, ao menos, dois extintores.

– Temos de analisar e ver o grau de perigo. Vai depender do que há no local, do tamanho, do tipo de atividade e do número de pessoas que circulam. Quanto maior o risco, menor a distância entre os extintores – revela.

Perigo – A Secretaria de Cultura de Santa Maria, responsável pelos prédios com problemas, garante que está ciente e que encaminhou aos bombeiros o pedido de inspeção. Segundo a titular da pasta, Iara Druzian, tão logo se tenha o parecer, as providências serão tomadas:

– Sabemos que segurança é fundamental. Assim que tivermos a lista do material necessário, vamos providenciar.

Integrante do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o arquiteto Dilson Nicoloso Cechin representa a Federal junto ao Fórum Técnico do Escritório da Cidade. Ele disse que não sabia do problema, mas alerta para o perigo:

– Independentemente de ser patrimônio histórico-cultural, o imóvel tem de estar seguro. Fora o fato de prestar serviços à comunidade, é preciso que as autoridades inspecionem. Principalmente prédios antigos.
Fonte: Diário de Santa Maria,18 de fevereiro de 2011